Emanet – Seher e Yaman

Olá,

No artigo de hoje iremos analisar os personagens principais da dizi Emanet (Legado). Já fiz uma análise geral da série em um artigo anterior chamado (inserir). Nele eu assisti o primeiro episódio e fiz minhas considerações. Agora, porém, depois de uma longa e emocionante maratona atualizei todos os capítulos dessa dizi para trazer um estudo mais completo para vocês, caras leitoras.

Não precisa levar isso ao pé da letra, ou considerar, uma análise perfeita. Cada pessoa enxerga os personagens de uma maneira. Isso é bom porque nos proporciona discussões com diversos pontos de vista e opiniões, desde que sejam sempre pautadas pelo respeito, não é mesmo?

Emanet nos dá dois personagens com caldo suficiente para uma análise bem longa. Porém, como estamos no começo dessa dizi tem muita coisa ainda para considerar na jornada desses protagonistas. O desenho deles ainda está se formando diante dos nossos olhos. Muitas águas ainda correrão debaixo da ponte de Emanet.

Por isso te convido para uma análise breve, mas espero que seja instrutiva sobre a visão que tive de Seher e Yaman nesses 21 episódios. Peguem seus arcos e flechas, minhas queridas, vamos acertar alguns alvos no texto de hoje.

Seher – A Bela

A protagonista feminina de Emanet surpreende por ser diferente daquilo que imaginamos ao ver o primeiro episódio. Ela sofre perdas irreparáveis. Tenta se recompor, juntar os caquinhos e seguir em frente por conta da promessa que fez a irmã.

Seher tem uma motivação para continuar respirando, apesar de todas as razões que a impulsionam para desistir de tudo. Essa motivação é o seu legado. Seu sobrinho Yusuf. Por causa do amor, da promessa, do sentimento de responsabilidade com o menino. Seher suporta os piores e mais terríveis martírios.

Desde tortura até ficar uma noite inteira na chuva sentada na calçada da mansão de Yaman. Na esperança de provar ao tio do menino que ela tinha tanto direito pela criança quanto ele. O legado de Seher é seu combustível para se manter viva, mesmo passando tantas privações.

Ela fica dias sem comer direito, sem trocar de roupa e ainda é mantida em cativeiro num cubículo pequeno com um cachorro hostil. Qualquer pessoa que tivesse uma motivação menor, teria desistido. Ela não desistiu como também não deixou de mostrar que não havia nada que Yaman fizesse, que seria capaz de amedrontá-la.

Seher não tinha medo dele. A prova disso é todos os momentos em que ele foi um verdadeiro ogro e ela simplesmente segurou-se firme ao seu objetivo. O momento mais emblemático para mim é quando ele oferece dinheiro a ela (Ep 3) deduzindo que o legado que ela quer, que ela tanto defende, é dinheiro. Seher simplesmente responde com um tapa.

Esse tapa mostra que Seher não é uma personagem fraca. Apesar de estar visivelmente abatida e subjugada aos mandos e desmandos de um homem sem coração. Ela se mantém firme no seu propósito de não se afastar do sobrinho. A teimosia de Seher, no entanto, desperta o pior que há dentro de Yaman.

Faz com a que a gente deseje o falecimento desse tio malvado de várias formas diferentes. Eu pelo menos confesso que foi muito difícil de assistir os primeiros episódios de Emanet. A raiva que eu senti de tudo que Yaman fez com Seher aumentava a cada minuto, a cada novo episódio. Eu me perguntava se seria capaz de um dia vê-lo com um olhar menos assassino.

Esse dia chegou. Aconteceu depois que Yaman fez a pior de todas as coisas na minha opinião. Ele apontou uma arma para a cabeça de Seher quando tanto ela como ele acharam que Yusuf havia morrido.

Como ele acha que Seher é a culpada do que aconteceu com Yusuf. Ele está determinado a vingar a morte do menino. Como ela também se sente culpada pelo que houve com ele, também deseja a morte. Enquanto, eu, como telespectadora entrei em desespero vendo essa cena que indicava um final trágico.

Esse momento, no entanto, nos mostra uma qualidade impressionante que há em Seher e Yaman. Ambos são personagens determinados. Pessoas de uma só palavra e que vivem a vida no limite. Ou é tudo ou é nada.

“Atire. Eu não tenho mais nada. Eu já morri. Atire. Tire a minha vida e me salve dessa dor. Por que você parou? Atire em mim. Se você não fizer isso, você não é um homem. Caro Yusuf, eu estou indo meu querido.” (Episódio 7)

Lembra que eu disse que Seher só encontrou motivo para seguir em frente porque tem a Yusuf? Pois bem, quando ela achou que o menino havia morrido, ela sabia que não iria mais viver. Ela pediu o próprio fim. Mas para a surpresa dela, aquele era apenas o começo de uma longa e complicada relação. Não com o menino, mas com o tio dele.

O legado de Seher era muito mais complicado do que ela imaginava ser. Se fosse apenas cuidar do sobrinho tudo bem, mas Yaman tornava essa missão quase torturante. O tio só admitiu que ela ficasse na casa, não foi por outro motivo, a não ser para que ela cuidasse de Yusuf. Na cabeça de Yaman a vida de Seher tem que ser focada 100% no garoto.

Só que Seher não é uma empregada, não é uma prisioneira, não é babá. Ela é tia de Yusuf. Ela pode, deve e luta para ser independente de Yaman. Por isso ela vai trabalhar com Selim, para ter seu próprio dinheiro e alcançar a saída da mansão. Ela não quer conviver com Yaman, não que estar sob o comando ditatorial dele.

Quando ele pensa que Seher sequestrou o sobrinho e a encurrala no quarto, soltando ameaças aterrorizantes. Seher ergue a cabeça e com a voz firme de alguém que não tem medo de cara feira, diz:

“Se eu quisesse fugir, eu fugiria. Em vez de vir aqui por conta própria, teria sequestrado Yusuf como se estivesse fugindo dos homens. Mas estou aqui, você está se perguntando por quê? Você vai me entregar Yusuf com suas próprias mãos. Você verá com seus próprios olhos que o revolver na sua cintura, seu mundo escuro, a sua falta de amor. Eu, você verá com seus próprios olhos que a tia dele é boa para Yusuf. Não, eu não vou sequestrá-lo de você, Yusuf vai sair daqui com a sua permissão.” ( Episódio 16)

Yaman é um homem que não aceita afrontas. Seher é do mesmo jeito. Ele vem com sua cara de mal e ela com sua postura inabalável. Yaman acha que ela vai fazer o que ele quer, e ela faz a egípcia contrariando as ordens dele.

E a gente vai curtindo essa dinâmica mesmo querendo quebrar o Yaman na pancada por cada surto que ele dá para cima da Seher.

Yaman – A Fera

Começo essa análise dizendo que estou sem panos, mas trouxe vassouras comigo. Tem muita poeira, traças e cupins no coração ABANDONADO de Yaman Kirimli. Enquanto tentamos entender esse homem, vamos fazendo uma faxina. Porque panos não são suficientes para justificar as atitudes desse arqueiro bravo. Quem sabe no fim da análise possamos vê-lo sem tanta raiva no nosso coraçãozinho.

O tio de Yusuf é um homem com um passado traumatizante. Isso, porém, não o exime de suas atitudes brutais no presente. Yaman é um homem com problemas psicológicos, mas que está tentando solucioná-los. Creio que para o bem de seu sobrinho, a pessoa que ele mais se importa na vida. Não por ele.

Yaman é um homem que vive, respira, segue em frente porque tem um irmão, uma cunhada e um sobrinho para cuidar. Porém, ele não vive plenamente. Ele é infeliz, desequilibrado, apático e irritadiço. Um homem que não consegue nem dormir bem, porque seu passado o assombra todas as noites.

A vida dele é opulenta, porém miserável sentimentalmente. Há poder em tudo que sai de seus lábios. Ele se sente o rei cujas ordens devem ser obedecidas. Não há clemência em suas decisões. Yaman age como um déspota. Mas todo o poder também traz consigo fraquezas. O tendão de Aquiles de Yaman Kirimli é aquilo que ele ama.

Você pode pensar por que eu não disse somente Yusuf? No caso de Seher o que a motiva é o sobrinho. No caso de Yaman é o que ele ama. Sim, apesar de seu coração estar abandonado, sofrendo até hoje com as consequências desse abandono. Yaman é extremamente leal ao pequeno, singelo rastro, do sentimento “amor” dentro de si.

O sobrinho é o ponto de luz no meio da escuridão. Por isso, todas as vezes que ele está na casa, precisa ficar perto do menino. Ele pergunta por ele, se importa com ele mais do que consigo. Por isso também é importante para ele que Yusuf cresça sabendo lidar com as decepções.

Apesar de não concordar com o modo como ele ensina o garoto sobre isso, eu entendo o porquê de querer que Yusuf seja forte e não chore. Yaman foi deixado para trás pela figura materna. Seher representa essa figura na vida de Yusuf e Yaman receia que o garoto passe pelo mesmo trauma.

Quando eu disse que a “fraqueza” de Yaman é aquilo que ele ama. Eu deixo espaço para que uma reflexão seja feita. Seher está enfraquecendo todas as defesas dele. De modo inconsciente ela está quebrando barreiras erguidas há anos. Não está fazendo isso porque o ama, ela está fazendo isso porque há uma conexão estranha entre eles.

Ela salvou Yaman e ele cuidou dela. Isso aqui não tem nada a ver com sentimento amoroso. Eles não se amam nesse ponto da história, mas essa situação de alguma maneira os uniu. Você é eternamente grato a alguém que salvou a sua vida. Seja um desconhecido ou parente. Vocês sempre serão unidos por esse momento de generosidade e abnegação.

Nesse ponto, Yaman muda. Talvez não seu jeito de ser, mas a forma como enxerga Seher. Não a vê mais como uma inimiga mortal, que quer tirar o sobrinho dele. Não a vê como uma cobra traiçoeira. Porque cobra alguma salvará a sua presa. Não, Yaman, a enxerga como uma mulher admirável, honrada e digna de receber dele uma atenção diferente.

Talvez, ele demore muito tempo para demonstrar essa admiração, a dar a ela essa atenção e esse valor que ele tem consciência de que ela merece. Não estamos falando aqui de traumas leves, estamos falando de uma vida inteira pautada pelo rancor e ódio. Pela desconfiança de que todas as mulheres irão feri-lo, como um dia a mãe dele fez.

Yaman não confia nas mulheres, mas está começando a confiar em Seher. Uma mudança suave, porém, significativa está acontecendo dentro dele. Isso em muitos aspectos. Veja, em nenhum momento, Seher viu Yaman com olhos de admiração. Porém, já temos uma pequena coleção de cenas em que o poderoso Kirimli deixa o queixo cair no chão com a beleza de Seher.

Isso nos dá uma interpretação: O coração de Yaman foi faxinado, varrido, limpo e só precisa ser organizado. Um sentimento por vez, cada um em seu devido lugar e tempo, porém, eles tão todos alvoraçados. Ela sente frio durante a noite, enquanto está convalescente. Yaman a abraça acalentando-a com carinho, sem mesmo entender a si mesmo durante o processo.

Numa fração de segundos, Seher desce a escada toda de preto, com os cabelos bem arrumados, uma maquiagem bem feita e Yaman sente-se novamente estranho. Talvez, se perguntando, por que ela é tão bonita? E continua se perguntando isso quando a vê dormir ao lado do sobrinho na cama.

Seher é uma mulher muito bonita. Mas não é a única mulher bonita que Yaman viu em sua vida, que tentou se aproximar dele com segundas intenções ou sem intenção alguma. Então, por que ela, justo ela, está fazendo o sangue do arqueiro ferver?

Eu tenho uma aposta. É porque ela não o quer. Não o deseja. Não sente nada por ele a não ser indiferença. Ela está focada no sobrinho e nem aí para o que Yaman pensa ou deixa de pensar. Ela não tem medo de Yaman. Ele pode grunhir e ameaçar. Jurar que fará o pior contra ela se caso ela deixar o menino só.

Seher vai erguer o queixo e dizer “Você não manda em mim”. A cada nova “desobediência”. Ele vai ter certeza que ela é uma mulher incomum. Cada tombo de Yaman representa um avanço no nosso entendimento dele. Um avanço para que largue mão de ser uma fera e volte a ter uma natureza mais humana.

A bela e a fera

Não vou dizer que essa história não romantiza a violência contra a mulher. Porque as coisas que Yaman faz para tentar afastar Seher do sobrinho são duras de ver, de aceitar e de passar pano. Eu por exemplo, não vou esquecer nunca ele ter deixado o cachorro morder ela. Aquilo ali foi o auge do surto desse homem.

Porém, não sou radical ao ponto, de não esperar para ver como se desenrolará o enredo, antes de cancelar a dizi, o roteiro e tudo mais. Eu sou uma pessoa curiosa, uma escritora que gosta de ver todos os tipos de tramas. Não acredito que o romance, de fato, vá acontecer enquanto Yaman for esse homem que ele é agora.

Na história Bela só se apaixonou pela Fera depois de conhecer quem ele era de verdade por trás daquela imagem horrorosa e daquela personalidade podre. Quando ela descobriu que a essência era muito mais importante do que a aparência. Ela conheceu que havia um homem doce, gentil e sentimental escondido atrás da muralha apavorante. Um homem admirável, de verdade.

Antes que a palavra “amor” tome forma na vida dos dois. Yaman terá mudado bastante. Já está acontecendo, na verdade. Yaman está dando espaço para Seher se sentir bem dentro da casa. Deu um quarto importante para ela, deu um lugar a mesa e se importou de ir saber com quem ela estava trabalhando. Tudo bem, que aquilo foi bem lunático, surtado da parte dele. Mas Yaman é um homem intenso nas suas atitudes. Ele é uma fera. Sua natureza é selvagem. Seus instintos são de alguém que vive na cidade, mas é como se tivesse que lutar pela vida a cada segundo no meio do mato.

O mundo cruel ensinou-o a ser assim. Ele não sabe como dosar sua intensidade, apesar disso tem lampejos de uma personalidade mansa. Seher não tem ideia, mas ele cuidou dela quando esteve enferma com uma delicadeza que nos faltou palavras para descrever.

Quem poderia imaginar que os ogros podiam ser sensíveis? Se Emanet seguirá a clássica história de amor e nos mostrará um Yaman transformado? Só nos resta torcer. Só sei que o cacique que lança flechas para se acalmar. Ainda vai deixar Seher impressionada com os seus sentimentos.

Talvez demore a admiti-los, talvez, ache que não seja o cara certo e a deixa ir com o sobrinho para bem longe. Talvez tema que ela não seja feliz com ele, porque acha que não pode mudar o suficiente para ser o homem certo. Talvez Yaman se apavore. Talvez ache que isso de “amor” nunca vai funcionar com ele.

Mas conhecemos como terminam histórias assim… O amor é sobre todas as adversidades, traumas e problemas um ente soberano.

Até mais, pessoal.

Obrigada à atb pelo trabalho incrível de vocês.