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Eu Não Devia Amar Você | Capítulo 3 – A reforma

Ai, ai, ai, ai esse amor é bom demais!

Ai, ai, ai, ai, esse amor marcou demais.

Eduarda voltou da cidade e era possível ouvir as músicas das fitas cassete da avó. O som ecoava pela casa. Ela bateu a bota na soleira da porta e entrou tirando o chapéu. Fazia uma semana que tinha voltado, não conhecia um dia de descanso desde, então.

 Ninguém, na verdade, por isso que ela ficou surpresa ao ver a sala com os móveis afastados e Sam dançando com Tia Leni. Melissa e Rubinho do outro e mais outros trabalhadores também. Todos dançando com entusiasmo e alegria.

Era quase três da tarde. Tinha muita coisa que se fazer, mas eles estavam ali confraternizando. A tia a surpreendeu com a repentina mudança de atitude com Sam. Até ontem ouvia dela algum resmungo em relação ao “marido”.

É verdade que desde que chegou ele fez mais do que deveria. Acordava antes dela e corria para cuidar das coisas junto com o pessoal. Ontem ficou até tarde sentando tijolo na reforma do moinho. Ele disse que sabia construir porque fez muito isso numa missão na Africa.

Ela descobriu depois, nas conversas que Rubinho trazia de lá para cá, que Sam havia contado aos trabalhadores. Que seu sumiço foi para viver uma vida de ajuda ao próximo. Os anos sabáticos dele foram para espalhar o bem.

Nesse momento ela decidiu não ser mais tão dura com ele, mas a tia ficava sempre com o pé atrás. Mas talvez tenha se rendido. Agora ela também era da turma que adorava Samuel Baran.   

— Filha! – Ela se afastou e veio até a sobrinha. – Venha, continua ensinando ele. Eu vou ver a panela do feijão para a janta. Eduarda ficou sem jeito e tinha mesmo motivos para isso. Ontem eles tiveram a maior discussão desde quando ele chegou na fazenda. Não tinham conversado nem um palavra desde então. Como iriam dançar?

A briga aconteceu assim:

Era quase 11h da manhã, quando ele entrou no escritório para falar com Eduarda. Chegou de meia, tinha tirado a bota na porta da cozinha. Apesar disso, sua roupa estava só areia, lama e suor.

Sua aparência estava bem diferente do motoqueiro que chegou na fazenda, porém, a cada dia que passava quanto mais enfeitado de terra, mais bonito ele ficava. Eduarda tirou os olhos no notebook da maçã e mirou-o.

—Posso falar com você um instante?

— Tudo bem. Sente-se. – Ela indicou a cadeira para ele. Era de madeira antiga, bem desenhada com estofado recentemente mudado. Como estava sujo, ele não quis sentar.

— Eu fico em pé mesmo. – Ele tirou do bolso da calça um papel dobrado. Estava um pouco sujo e amassado, mas ele apresentou a ela mesmo assim. – Eu fiz essa planta para a reforma do moinho d’água, é um rascunho um tanto quanto grosseiro. Eu fiz na hora do almoço, mas se você me der um dia eu consigo transferir tudo isso para o computador de forma que dá para visualizar.

Ela pegou o papel e checou o desenho. Ela não era especialista, mas entendia um pouco. Aquilo era um plano de reforma muito bem-feito, mas não podia deixar ele criar esperanças de que fariam isso. Afinal, eles já tinham um arquiteto e engenheiros formados para fazer tal coisa.

— É muito bom, mas acho que você deveria deixar isso para o Nelton e o Siqueira. – Ele revirou os olhos. Não tinha se dado bem com esses dois velhos cabeçudos. Eles eram antiquados demais. Não quiseram ouvir nada das indicações que ele havia dado ontem e hoje nem sequer apareceram para verificar o serviço.

— Eles podem ter sido bons na sua época, mas hoje estão muito desatualizados. Se seguirem como idealizadores do projeto, o moinho vai perder todas as características de sua construção inicial. Acredite em mim, eles não querem conservar nada.

— Querido, eu confio neles já reformaram a cozinha toda. Vovó amava aquela parte da casa e eles a conservaram muito bem, apesar das reformas. Tem quase vinte anos e está tudo no lugar.

 — Tudo bem, eles fizeram isso, mas foi há vinte anos. Talvez as técnicas usadas, o material tenha sido muito bom. Mas as coisas mudam, os meios de se fazerem as coisas também. O moinho, segundo soube está desativado há cinquenta anos. Foi construído em 1912 igual a casa, não? Você não pode simplesmente reformar aquilo derrubando tudo. A casa é histórica.

— Eles não vão derrubar, pare de dizer isso. Está maluco?

— Ah, então, eles não te contaram o que iam fazer. Porque hoje de manhã o pedreiro recebeu uma ligação deles dizendo que era para começar a “marretagem”. Eles vão quebrar parte do moinho. Isso vai descaracterizá-lo.

— Eles não vão derrubar. Sam. Claro que não. – Ela se levantou e pegou o celular para ligar para Siqueira, mas desistiu. – Espera aí, por que estou dando ouvidos a você? Eu confio no Siqueira e no Nelton. Você está aqui a uma semana. O que sabe da fazenda ou de reformas para me dizer tal coisa? O que estou pensando?

A ofensa doeu nele. Ela, sempre o tratava, uma hora ou outra como um ser intruso na fazenda. Era uma mulher áspera e até arrogante. Mas ele não se ofendia tanto quanto deveria. Estava acostumado com gente assim, foi criado pelo próprio pai.

Por isso ele pegou o papel de cima da mesa, dobrou e colocou no bolso. Ele aprenderia como lidar com ela.

— Escute, faça o que quiser! Mas depois não diz que eu não avisei. Agora muito me admira você querer fazer desse lugar um hotel de renome da região e não estar disposta a dar o melhor por cada parte. O Moinho está no emblema da fazenda lá na porteira. Você deveria colocar o melhor material de tudo, e não baratear as coisas. Ou colocar o companheirismo acima da qualidade. Nelton e Siqueira são antiquados, você precisa de sangue novo.

— Ah, então, deixa ver… você e seu plano desenhado de lápis num papel sujo, é o “sangue novo” ao que você se refere? – Ela arqueou a sobrancelha. A arrogância de Eduarda atacava novamente e isso o deixava tão furioso, quanto encantado. Sam podia jogar tudo para o alto, só não fazia isso porque pegou gosto pela fazenda.

— Você vai se arrepender, Eduarda. – Ele abriu a porta e saiu pisando firme.

Ela respirou fundo engolindo a raiva que sentia desse homem, que tragicamente, era seu marido. Sam queria bancar o que mais amava a fazenda, ele cujos sentimentos eram tão volúveis? Onde já se viu? Ele que ontem fez questão de ir para a cidade flertar com as mulheres na pracinha. Rubinho contou a ela, já que tinha ido com ele.

Como podia ser descarado um homem desse? Estavam casados. Havia uma certidão de casamento, uma aliança em seus dedos. Será que ele não podia se controlar? Sim, ele era bom de trabalho, ajudava e muito, mas em suas relações pessoais era um verdadeiro canalha.

— Como se eu fosse dar atenção as palavras de um descarado como ele. – Ela cruzou os braços e foi para a janela. Ele estava lá conversando com os outros trabalhadores. Gesticulando apressado e irritado. Os homens ficaram desapontados, deu para perceber.

Como podia que todos gostassem dele e não enxergassem esse lado bandido de Sam? Como? Ela não conseguia entender o encantamento de Sam. Embora, dentro de seu coração houvesse uma suspeita.

A noite chegou bem rápido naquele dia e depois de verificar a construção do moinho e visto que nada tinha saído do lugar. Deduziu que Sam mobilizou os trabalhadores para uma espécie de motim. Ninguém havia feito absolutamente nada.

Ela não contou até três, rumou para o quarto do marido com a fúria de um batalhão. Bateu na porta que entrava pelo corredor, não a que divide os quartos pelo lado de dentro. Ele abriu já sabendo o esporro que levaria. Por isso a recebeu de cueca. Ele tinha suas artimanhas.

— MEU DEUS, SE VISTA! – Ela fechou os olhos e virou de costas.

— Por que? Eu sou seu marido.

— De mentirinha. Mentirinha. – Ela recordoou-o. Sam riu do diminutivo e como ela saiu de brava, para garota assustada em segundos. Por isso sem medo colocou-se diante dela. Iria provoca-la um pouquinho.

Eduarda podia ser arisca, mas era uma mulher. Sam sabia como lidar com elas, para alguma coisa serviria seus tantos anos de solteirice acompanhada.

— Eu não vejo problema nenhum de estar de cueca aqui. É o meu quarto. – Pegou a toalha e cobriu as intimidades. – Mas para que você não me xingue ainda mais. Eu vou colocar a toalhinha aqui. Está bom para você?

Ela abriu os olhos e fixou-se no ventre trincado. Na vala lateral de seus músculos bem tratados que sumia na toalha branca. Virou-se novamente, não estava bem. Nada bem.

Caminhou até a janela, para respirar o ar fresco da mata. O calor simplesmente aumentou do nada dentro de suas roupas típicas de uma fazendeira moderna.

— Eu quero saber por que a reforma do moinho não foi para frente? – Ela perguntou para a janela. Não queria olhá-lo porque perigava não saber como falar. Isso era vergonhoso.

— Eu mandei o Abílio, Peito Largo e Zé da Mota pararem, o mesmo aconteceu com os outros que vieram da cidade.

— Com que direito? – Ela reclamou enquanto Sam se aproximava. Agora ela tinha sangue quente na veia para brigar com ele. Já tinha se recuperado.

— O de seu esposo. Acredita que eles acham que eu tenho algum tipo de vara de condão, porque consegui me casar contigo. Que fama você tem, Eduarda! Eles dizem que eu te domei, mal sabem eles.

— Vara de condão? Por acaso você é magico?

— Não, mas a minha vara… – Ele rebateu e segurou no alto o tapa que vinha em sua direção.

— Cínico!

— Chata! – Ele largou a mão dela e aproveitou para reclamar. – Por que você não me dá atenção? Eu estou falando sério, esses homens vão destruir o legado dessa fazenda. Deixa eu te ajudar.

— Não! E você está proibido de proibir qualquer coisa nessa fazenda. Está ouvindo? – Ela apontou o dedo no rosto dele. – Você é só meu marido e figurativo. Não tem que mandar ou desmandar em nada. Coloque-se em seu lugar.

Ela passou por ele, mas foi presa pelas mãos fortes do homem, que a imprensou contra a parede ao lado da janela. A palma da mão dele bateu na parede, mas o corpo dela estava bem protegido por um de seus braços. Ele era impulsivo, não descuidado.

Já fazia alguns dias que ele sonhava acordado com a possibilidade de realmente domar essa mulher. De tê-la em seus braços como todo mundo pensava que ele tinha. Mas não seria algo fácil de conseguir, Eduarda era uma mulher escorregadia.

Quando ele pensava que a compreendia, uma outra parte dela se revelava. Em contrapartida, para Eduarda, Sam parecia uma cobra. Seu bote era tão rápido e inesperado, que ela ficava sem condições de reagir.

Não estava mesmo acostumada a tipos como ele. Ela nunca foi tratada assim em sua vida. Não estava preparada para um homem atrevido como Sam.

— Você vai me deixar maluco, Eduarda. – Sam disse entre os dentes, tentando falar com raiva, sem parecer que falava mais com desejo na ponta da língua do que outra coisa.

 Não podia se dedurar dessa forma. Quanto mais ela gritava, quanto mais ela ordenava e bancava a patroa. Mais ele fantasiava em sua mente o dia que se beijariam de novo. Estava ansioso para uma situaçãozinha em que tivessem que fingir ser um casal.

Ele só precisava de um momento para poder extravasar, uma desculpa para desafogar a paixão que sentia por essa mulher. Era pouco tempo, ele sabia, mas a cabeça ficava a mil. Pensando nela. Tinha uma fresta maldita na porta que chamou-o para o pecado dois dias antes.

Ele não devia tê-la espiado naquela noite. Por que fez isso? Ele tinha o que? 14 anos? Estava na puberdade por acaso? Não era possível. Desde que a viu tirar as roupas, sua cabeça não soube o que foi descanso. Nunca viu mulher mais bonita de sutiã e calcinha.

O mais maluco era tentar convencer o cérebro que mesmo sendo casados, ele não tinha o direito de arrombar a porta. Agarrá-la em seus braços e amá-la até ela berrar seu nome aos quatro ventos.

— Me solta, Sam! – Ela gritou alto. Não era bem isso que ele imaginava ouvindo-a dizer. Ele soltou, mas os braços fizeram uma parede do lado direito e esquerdo dela. Eduarda teria que ser ainda mais incisiva, ele não estava tendo forças deixa-la partir.

— Ligue para eles e pergunte do projeto como quem não quer nada. Você vai ver o que eles vão dizer. Vai me dar razão. – Ele se afastou e Eduarda sentiu o sangue voltar a circular e saiu do quarto apressada.

Ela não tinha ligado à noite. Ela decidiu ir a cidade conversar com eles e realmente era verdade. Siqueira e Nelton derrubariam o moinho, mas não quiseram falar diretamente. Porque achavam que Eduarda concordaria com tudo. Falaram até que era desejo de sua falecida avó. Nada a convenceu.

Eduarda ficou indignada e pediu a demissão deles do projeto. Quiseram argumentar, mas não deu certo. Ela era irredutível.

Por isso dançar com Sam naquele momento era desconfortável, não tinha planejado vê-lo logo de imediato. Tinha pensado em se preparar primeiro, encontrar as palavras. Ela era assim. Mas agora não tinha para onde correr, teria que falar mesmo sabendo que Sam se gabaria e jogaria em sua cara o erro.

— Falei com Siqueira e Nelton. – Ela começou depois que deram alguns passos desconcentrados. Ela pelo que tinha que dizer e ele por não saber mais controlar seus sentimentos por essa mulher. Passou o dia todo ocupando a mente para esquecer aquele momento intimo na noite anterior, mas foi um trabalho infrutífero.

— E aí?

— Você estava certo. Eles não queriam reformar, mas derrubar e fazer um novo. – Ela esperou Sam responder de forma debochada como sempre.

— Já que eles não estão mais no projeto, você poderia dá-lo para mim? – Ele disse animado. Eduarda ficou surpresa. – Antes que diga qualquer coisa, eu sou arquiteto de formação e tenho uma especialização em restauração. Eu não tenho meus diplomas comigo aqui, nem um currículo, mas se quiser pode ligar para o meu irmão Mauricio. Ele vai confirmar. Ele foi meu paraninfo.

— Por que você quer o projeto do moinho? Eu não entendo.

— Meu pai queria que eu fosse arquiteto da empresa, que eu projetasse enormes castelos de beleza surreal. Eu só queria trabalhar reformando o que ninguém acreditava que tinha jeito. Ganharia bem menos, talvez ficasse no esquecimento do meu trabalho. Eu não queria honras, Eduarda. Meu pai não podia viver sem elas. Ai foi o começo de nossos embates.

— Sam, eu—

— Me dê o projeto. Deixa eu reformar o moinho para você. Faz muito tempo que não sinto essa paixão aflorar dentro de mim. Deixa eu fazer esse trabalho. – Os olhos dele brilhavam, como negar algo a alguém cujos olhos cintilavam desse jeito?

— Está bem! O projeto é seu! – Ele ficou tão feliz que girou-a no ar pela cintura. Todos olharam os dois ainda mais encantados com o casal.

Ele a desceu e seus rostos ficaram colados. Eduarda sentiu a vontade de beijá-lo bater na porta de seu coração. Mas controlou-se fingindo ter algo que fazer no escritório. Ele entendeu a fuga da esposa, mas decidiu se aquietar. Não era momento de forçar nada.

Não ainda.

                                                  ***

Os dias foram passando e era possível ver o trabalho no moinho sair do papel e tomar forma diante dos olhos de todos. Sam estava engajado até o último fio de cabelo nessa reconstrução. E como se não houvessem já motivos suficientes, Tia Leni tinha de vez se encantado com o genro.

Não parava de elogiá-lo.

— Esse homem é muito esforçado. Ele ajudou a bater massa de manhã e a tarde está ai cuidando para que a chuva não estrague o que já construíram. – Caia uma chuva fina. A grossa já tinha ido embora para as colinas lá longe. Ele estava ensopado junto com os outros colocando a lona sobre a parte que estavam sentando tijolos.

Melissa que estava na outra espreguiçadeira também via motivos para enaltecer o cunhado.

— Sabe o que ele me disse ontem, tia. Que acha que seria bom, se a gente transformasse o porão em uma cafeteria rustica, o que acha?

— Sim, é boa a ideia. Afinal é enorme lá embaixo e só tá entulhando coisa que a gente não usa mais.

— Vamos falar para a duda… – A mesma chegou na soleira da porta. – Não morre cedo. Precisamos falar contigo.

— A chuva danificou a conexão de internet e telefone. Deve ter caído alguma arvore na estrada…de novo. – Ela reclamou. – Vou ter que deixar para despachar os documentos amanhã.

— Que bom que aí você descansa. Senta ai, meu amor. – Ela sentou-se na espreguiçadeira desocupada e pegou um biscoito de leite do pote de vidro na mesa de centro.

— O que está acontecendo ali no moinho? – Ele ficava localizado perto do lago mais ou menos uns sessenta metros da casa grande. Era possível vê-lo nitidamente do pátio da frente da casa.

— O Sam e os pedreiros tão cuidando de não deixar a chuva estragar o serviço. Tão pondo lonas. – Explicou tia Leni.

— Aliás, por falar no cunhado. Ele sugeriu fazer um café aqui no porão. Ele já falou contigo?

— Sim, achei ótima a ideia. – Tia Leni e Melissa comemoraram em silencio. Eduarda se levantou e apoiou as mãos no corrimão do pátio.

— Será que está tudo bem com eles? Vem mais chuva lá longe. É melhor não estar do lado de fora quando ela vier. – Ela soube que Sam tinha alguns problemas de saúde. Não era bom que ele pegasse resfriado.

Não, ela não perguntou nada disso para ele. Ao invés disso, chamou Rubinho, o faz tudo da fazenda, para conseguir as informações para ela. Rubinho era um homem baixo com os cabelos longos presos num rabo de cavalo. Ele tinha uma marca de traquinagem na sobrancelha. A cicatriz fez com que parecesse que houvesse um risco nelas.

Um risco “maneiro” como ele gostava de dizer. Apesar de parecer um pouco amedrontador por conta dessa marca. Os sorrisos galhofeiros e a personalidade dócil do rapaz. O faziam simpático aos olhos de todos.

Rubinho era filho bastardo, de quem? Ninguém nunca soube. A mãe dele viveu na fazenda por muitos anos, mas morreu repentinamente cinco anos antes de vovó Samira.

Eduarda e ele tinham a mesma idade e se tratavam como irmãos. Por isso ele nem sequer titubeou quando ela pediu a missão de investigar o marido. Rubinho se tornou amigo de Sam numa fração de dias. Tanto que descobriu sobre as alergias que ele tinha.

Eduarda achou engraçado como Rubinho chegou dizendo “Esse branquelo é adoentado de tudo. Foi mais fácil perguntar o que ele num era alérgico. A gente vai ter que mudar a comida do cabra, ele tem alergia até a limão caiana.”

Como não se preocupar com o bem estar dele? Estavam quilômetros longe do único hospital/emergência da região e se ele passar mal? Era isso que estava fazendo quando a internet caiu. Estava pedindo suprimentos médicos para auxiliá-lo em alguma crise.

Não que eles não tivessem. Tinham até soro antiofídico. A farmacinha era vasta, mas ela viu que faltava coisas. Tia Leni, respondeu-a.

— Não se preocupe com o Sam. Ele não é capial, é homem de cidade, mas é homem vivido. Aqueles músculos não são de enfeite. Ele carregou duas sacas de cimento duma vez. Eu vi com esses olhos que a terra a de comer. Vamos, sente-se, o café vai esfriar.

Sam e os outros homens correram para o pátio antes que a chuva grossa os alcançasse ferozmente. Melissa e tia Leni arranjaram toalhas para eles. Assim como trouxeram os pães e cafés. Assim, antes de irem para seus alojamentos eles comiam e se satisfaziam.

Eduarda ofereceu uma toalha para o marido. Ele percebeu pelo cheiro que era a toalha dela. Ficou surpreso com a atitude e agradecido também. Passaram dias assim, como se não fossem nada além de patrão e empregado. De repente, ela começa a trata-lo bem? Tinha algo errado.

— Posso mesmo usar? – Ele perguntou para sanar suas dúvidas.

— Claro. – Ela suspirou.

— Obrigado. – Sam secou o rosto e os cabelos. Ela entregou uma ferramenta de madeira que servia para ajudar a tirar as botas. Ele retirou-as, sem entender porque ela estava sendo tão atenciosa. – Eu vou tomar um banho, a roupa está toda colada em mim. Meu ossos já estão tremendo igual bambu.

Ele seguiu com cuidado para não molhar muito o caminho até o quarto, mas não podia crer que ela o estava seguindo. Eduarda entrou com ele, como se fosse algo normal. Não era. Ela nunca mais entrou ali no quarto dele. Era a primeira vez em cinco dias.

Ele contou. Tinha essa mania de contar as coisas. Desde que ele assumiu a reforma do moinho, eles tiveram pouco contato.

Sam espirrou.

— Desculpe.

— Vamos tire logo essas roupas molhadas. Não quero que você resfrie. – Sam arregalou os olhos.

— Por quê? – Ele perguntou esperançoso de ouvir algo doce da parte dela.

— Se você ficar doente, o moinho vai demorar a ser inaugurado. – Eduarda sorriu disfarçando a preocupação. E rezando para que ele não pensasse outra coisa.

— Ah, sim, não pode ter um trabalhador abatido. – Ele entrou na brincadeira.

— Não, não posso me dar ao luxo. Tenho que cuidar da mente que está fazendo as coisas andarem na fazenda. Não posso perde-la por um segundo. – Ele gostou desse elogio inesperado. Eduarda retirou a camisa dele de manga, colocou num cesto de plástico ali perto, mas não tirou a camiseta de dentro. Ele fez isso e colocou no cesto.

Eduarda nem sequer virou o rosto ou se espantou ao vê-lo metade desnudo. Sam achou ainda mais esquisito.

— Eu tiro a calça também? – Ele perguntou antes para não levar esporro. Ficar sem camisa estava tudo bem, de cueca era outra coisa.

— Claro, vai tomar banho com essa roupa, por acaso? – Sam achou que estava surdo. Ela disse para ele tirar a calça? Sam engoliu em seco, não estava esperando uma oportunidade? Essa era a chance dele.

Então, ele fez. Retirou a calça sem desviar os olhos dela. Tentando seduzi-la e falhando miseravelmente. Porque ela não desviou os olhos dele e pareceu ainda mais efetiva do que ele. Era como se Eduarda o estivesse devorando através das pupilas carameladas.

E isso o desconcertou totalmente. Sam colocou a calça no cesto e se sentiu levemente envergonhado. Não estava acostumado a se sentir assim.

— A cueca também? – Ela devolveu o cesto para o lugar dele. Eduarda apenas olhou-o de canto de olho e caminhou até a porta. – Nem tudo pode ser perfeito, não?

— De jeito nenhum. – Eduarda fechou a porta e Sam passou a mão na cabeça sem acreditar no que aconteceu.

— Será que ela está começando a gostar de mim? – Ele celebrou como se fizesse um solo de guitarra e vibrou fazendo o símbolo do rock n roll com as mãos. Ele se olhou no espelho e disse: – Isso é inacreditável. Sam, meu querido, eu nunca duvidei de sua capacidade. Nunca duvidei.

Eduarda entrou no escritório e encostou-se na porta fechada. A mão presa ao coração saltitante no peito. Parecia até que estava tendo um ataque. Como era possível?

— Eu não posso estar apaixonada por ele. Eu não posso. Eu não devo. Meu Deus, tira isso do meu coração.

********** Fim do Capítulo **********

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