Publicado em Dizis Longas, Novelas Turcas:

 A Segunda Chance de Defom

A vida nem sempre nos proporciona momentos onde teremos uma outra oportunidade de fazer diferente. Ainda mais quando a gente deixa o tempo passar achando que ele sozinho pode curar, salvar, resolver e transformar as coisas.

Defne e Omer passaram um ano longe um do outro e nesse tempo muita agua passou debaixo da ponte. Eles sofreram ao ponto de achar que não havia como remediar a ferida.

Mas foram surpreendidos com uma janela se abrindo no aposento onde todas as portas estavam trancadas. É sobre essa luz no fim do túnel desse amor que parecia fadado ao fracasso, que a resenha de hoje vai tratar.

O desespero de Omer

Voltar para Istambul foi a coisa mais corajosa que Omer fez em um ano. Ele precisou de um empurrãozinho para se mover, é verdade. Mas marchou de volta para a terra natal, mesmo sabendo que poderia se deparar com novidades desagradáveis.

E se Defne estivesse com outro? Eu acho tão engraçado ele ter medo que ela tenha seguido em frente com outro cara, porque por um ano ele nem sequer achou essa possibilidade assustadora. O caso é que ao voltar e ter se deparado com a amada caindo em seu colo como um presente do céu.

Sabe o que me deixa passada que ele segurou ela direitinho. Eu não teria essa destreza.

Omer, de repente, encheu-se de formidável esperança. Parecia até um sinal divino que eles eram um para o outro.

Engraçado, dias antes tinha uma mulher na cama dele, mas ao pisar em terras turcas. Ele apagou todo seu passado e recomeçou, iludido em seu coração de que nada havia mudado e que seria bem simples voltar ao início de tudo. Mas o passado deixa marcas que nem mesmo a borracha da vida é capaz de apagar.

Naquela noite após o encontro com a Defne ele sentiu fome e comeu satisfeito seu prato de macarrão. Enquanto ela sofria como há um bom tempo não fazia. O homem que mais a machucou e que ela ainda amava, voltou para assombrar seus dias.

A felicidade de Omer foi momentânea, rever a amada o fez bem, mas logo ele perceberia a amargosa dor da rejeição. Defne não quis conversar com ele mesmo estando Omer a um passo de distância.

Com razão, afinal, ele chega do nada demonstrando interesse. Perguntando sobre porque ela mudou de profissão, como se não tivesse passado um ano, mas um dia que eles deixaram de se falar.  

Gostei do gelo que Defne deu nele nos primeiros dias e como foi forte até onde dava para não demonstrar, o quanto ele ainda a afetava. Ela o conhecia e como ele podia ser terrivelmente convincente. O lado bom e ruim ao mesmo tempo é que os dois se conhecem.

Omer sabia que se insistisse conseguiria quebrar o gelo de Defne. E ela sabia que ele insistiria até conseguir dela o que tanto queria. Era questão de tempo e paciência, algo que Omer tinha de sobra. Não demoraria muito para Defne e ele voltarem a se entender.

Uma das cenas mais tristes e bonitas ao mesmo tempo desses primeiros episódios, é quando ele se aproxima acanhado. Falando sem parar com uma mulher que o ignora. E mesmo ela não querendo conversar, Omer se aproxima não muito, apenas o suficiente para sentir o cheiro dela novamente.

É possível perceber a saudade, o desespero de não poder tocar e abraçar a mulher que ele tanto ama. Mas, também, a certeza de que merece ser ignorado. Ele abaixa a cabeça e se vai. Isso aconteceu duas vezes e dá pena de ver ele mendigar.

Dá pena também de ver Defne lutar para não cair no poço sem fundo do qual com tanta dificuldade saiu. A presença de Omer significa reviver dores antigas, mas também relembrar momentos lindos.

Ele chegou achando que seria como há um ano, mas não demorou muito para entender que a “defne dele” estava mudada. Ela não seria facilmente convencida pelo charme, perfume e presença marcante de Omer. Muito embora, sabemos bem que ela penou com a aproximação irresistível dele.

Defne foi dura na queda, por pouco tempo, mas foi.

Outro momento, que na minha opinião, é um dos melhores do começo da novela é quando ela vai tratar do salário com Omer. E exige educadamente que seja tratada por Srta. Defne.

Ele, no entanto, insiste em perguntas pessoais e quando percebe que ela não vai dar atenção. Faz o que a gente espera dele. Omer é direto ao ponto e pede perdão.  Ele admite ter sido duro, bravo e se mostra arrependido de tê-la deixado.

Defne permaneceu de costas controlando a emoção enquanto ouvia o discurso contrito do amado. Em seguida ele faz algo que arrepia até a nossa espinha. Omer afundou o nariz nos cabelos ruivos dela. Inalou seu perfume dizendo “minha Defne”. Nada de “Srta. Defne”, para Omer ela sempre seria sua. Independentemente do que fosse.

Acho que a Defne ia quebrar o Omer no soco se ele insistisse mais
um pouco, ainda bem que o Sinan apareceu.

Até aquele ponto ele tinha certa confiança de que ganharia a peleja. Por isso, quando ela explodiu com ele no estacionamento, gritando para que ele a deixasse. Omer surtou. Ele fez todo aquele escarcéu no transito porque Defne não queria ser sua e já tinha outro tentando leva-la para longe.

Outro, que por sinal, era seu primo. Omer como sabemos não é um homem que sabe lidar com o seu ciúme. Ele ficou louco e ainda bem que Sinan estava por perto para acalmar os ânimos.

“Defne é minha” é o que ele diz ao seu primo quando os dois conversam à sós sobre a história de amor com a ruiva. E ele não mentiu, Defne é dele e ele é da Defne.  Eu gosto muito dessas duas cenas, porque fica claro que não é apenas ciúme.

Mas o ápice do desespero de um homem que percebeu tarde demais que o amor é mais importante que o orgulho. Ah, mas ele ficou com outras na Itália, como ele ainda pode dizer “a defne é minha” ou “eu sou da Defne”?

É meio maluco pensar isso, mas o corpo cirandou por aí, a alma e o coração não. O que pode ser questionado é que no dia do casamento, quando ela teve a estupida coragem de confessar tudo. Defne deixou de ser dele e Omer apagou do juízo esse sentimento de pertencimento mútuo.

A raiva tomou conta e o aconselhou da pior maneira possível. Defne virou uma vilã, juntamente com todos que estavam ali. Muito embora a atitude dele tenha sido louvável de, ao menos, casar e não a menosprezar na frente de todos. Abandonar Defne no dia seguinte sem dar a ela a chance de se explicar foi duro demais, mas justificável devido ao nível de sofrimento dele.

Veja, algumas atitudes dos personagens são questionáveis, mas compreensíveis se olharmos sob uma ótica tridimensional e sem partidarismos. A história de Defom não é nada simples e possui problemas que geram sentimentos controversos na gente.

Por exemplo, as mentiras de Defne, embora, sejam passiveis de perdão devido a condição de inocência e de ameaças que sofreu. Ainda são mentiras.

A reação de Omer quando soube a verdade foi típica de sua versão adolescente quando se emburrou com o avô e os tios. Saindo por aí vivendo como um moleque rebelde que não tem eira nem beira. Ele fez a mesma coisa só que com bastante luxo, bebidas e mulheres.

A questão é que o amor foi esmagado pelas mentiras, pela forma que a verdade foi liberada e principalmente pela incapacidade de Omer de “perdoar” as falhas dos outros. Omer é uma tempestade como disse Defne, ele pode destruir tudo no seu auge de estresse e raiva.

Isso é péssimo e inclusive foi uma dos motivos que mais contribuíram para Defne não se abrir com ele sobre o assunto da mentira. Ela sempre teve certeza que Omer iria deixa-la e sabe, eu acho que ele faria isso. Exceto em um momento, lá no começo da novela na casa da montanha.

Se ela tivesse contado tudo ali, ele jamais se irritaria com ela ou pensaria em deixa-la. Omer estava nas nuvens, pisando sem sentir o chão. Apaixonado, rendido, entregue, se ela dissesse para ele que era uma assassina procurada pela interpol. Omer daria um jeito de protege-la e amá-la.

Inclusive, Sina o presidente do ship Defom

Por isso, Omer sente necessidade de pedir desculpas por ter tratado Defne com tanta rudeza. Se ele a amava de verdade deveria ter ouvido, tentado entender e não ter abandonado o barco primeiro.

Ele questiona porque ela não contou antes para manter intacta a linda relação que tinham. E por que Omer também não tentou fazer o mesmo quando soube a verdade? É porque ele realmente a enxergou como uma vilã. A raiva como nuvens escuras de chuva encobriu o céu azul clarinho que brindava a vida deles.

“Me desculpa eu não devia ter deixado você”. É o que ele quis dizer, mas demorou um ano para que ele finalmente caísse em si. Um ano. Mas eu me pergunto se nesse período de um ano, Defne também tivesse tido outro namorado. Estivesse com ele, de casamento marcado e tudo.

Omer saberia lidar? Ou agiria igual o cara da música Surto de Amor de Bruno e Marrone e Jorge e Mateus?

Na canção, o homem o casamento é interrompido e o homem leva embora em seus braços a noiva do outro. Se pensarmos um pouco, foi mais ou menos isso que Omer fez quando parou Pamir e Defne na ida ao tal coquetel.

Embora Defne seja ciumenta em mesmo grau de loucura que Omer. Ela não ficaria doente se soubesse dos casos dele. Invés disso, ela o ameaçaria de morte se Omer sequer tocasse no assunto “Itália”. E proibiria a ida de ambos ao país por pelo menos uns dez anos, mas ficaria por isso mesmo.

Omer, porém, não saberia lidar com Defne sendo de outro. Só a ideia de que um cara ter tido o afeto, o carinho e o amor dela adoece os sentimentos de Omer. Lembram do namoradinho de infância de Defne? Omer virou um monstro quando descobriu que o dito cujo estava a fim dela.

Se ela tivesse tido alguém ou um candidato melhor que Pamir, que realmente balançasse os sentimentos dela. A história se tornaria ainda mais complicada e dolorosa para os dois, mas essa novela não é um drama. Nada de grandes complicações, afinal, é uma comedia romântica.

Mas se essa hipótese tivesse acontecido, os dois voltariam um para o outro, mesmo depois de rodar o mundo inteiro com outras pessoas. Sabe por quê?

A relação deles é uma roda gigante, que sobe e desce, mas nunca sai do lugar. Isso significa que ser um do outro no caso de Defom. Não é posse, é destino. O coração de um só bate certinho se o outro estiver por perto.

Existe uma canção que resume a relação de Defne e Omer. Cantada na voz da inesquecível Elza Soares, se chama Espumas ao Vento e narra a relação tumultuada de um casal que vai e volta. Um casal que se machuca, mas pede perdão.

Um casal que sabe que por mais longe que o outro vá, a porta nunca estará fechada para quando ele decidir voltar. Um amor cheio de marcas que, como eu disse antes, borracha alguma consegue apagar.

“Sei que aí dentro ainda mora um pedaço de mim. Um grande amor não se acaba assim. Feito espumas ao vento. Não é coisa de momento, raiva passageira. Mania que dá e passa feito brincadeira. O amor deixa marcas que não para apagar.”

Omer, por um momento achou que não tinha jeito, que o amor deles era complicado demais para se resolver, até descobrir que Defne guardou com carinho uma das camisas dele. Omer não precisa de uma fogueira, mas de uma singela chama para seguir acreditando que os dois poderiam voltar.

Munido dessa informação secreta, Omer jogou de forma confiante o “labirinto da conquista”. Pamir também estava nele, mas mal sabia se mover. Foi um zero à esquerda em suas tentativas.

Enquanto, Omer profundo conhecedor da amada, soube contornar a fúria da ruiva e a fez entrar no jogo, que ele jurou que seriam sob as regras dele. Sumiu com o esboço para atrair Defne para sua armadilha.

Só que um ano se passou, não foi? Defne não era mais uma secretária, nem uma aprendiz de designer, nem a garota do bairro facilmente manipulada. Ela também não era mais frágil e muito menos covarde. Ela foi ao fundo do poço e voltou de lá viva.

Ela não ia ceder ao jogo de Omer. Ela o amava, sim, mas as coisas nunca mais seriam como foram dois anos antes. Consciente e terrivelmente calma, ela surpreendeu Omer dentro da casa dele. O homem levou um susto tão grande que quase partiu dessa para melhor.

Era possível ver diante dos olhos de Omer que ele não conseguia reconhece-la. Melhor ainda, não conseguia acreditar que era possível amá-la mais do que amava. Porque vamos ser sinceras aqui, Defne ir até a casa dele foi um ato não de valentia, mas de autoconfiança.

Eu amei que eles foram morar juntos porque eu sabia que a Defne ia ter neném.

Omer tornou a personalidade dominante de Defne, que muitas vezes era rechaçada pelos outros, numa das melhores coisas sobre ela. É como se ele fosse um grande quadro branco, que ela – somente ela – podia com seu jeito e talento, pintar.

Porque ele aprendeu a amar a vida que ela construiu para ele na primeira temporada. Na verdade, ele não sabe como é viver sem ela ditar os rumos de sua existência. Isso é uma das coisas mais legais sobre essa novela, Omer sobrevive sem a Defne, mas não vive sem ela.

Quando a ruiva vai até a casa dele e percebe o desalinho do quadro, da cafeteira e até a geladeira de Omer. Ela pergunta o motivo e a resposta é que ele não está feliz, porque está longe dela. Omer parece um menino desamparado e eu me pergunto quem aguenta ver ele nesse estado?

Eu pensava comigo que quem havia dado o primeiro passo para a reconciliação tinha sido o Omer com o beijo à beira do mar. Eu achava que o beijo tinha sido o início de tudo, mas foi a comida que Defne preparou quando percebeu que Omer não estava se alimentando.

Aquilo foi o sinal que ele precisava para fazer qualquer tipo de loucura para tê-la de volta. Comprou um livro, contou que sabia da camisa, da Sarma, puxou para dançar na marra e ainda questionou se ela era capaz de dizer na cara dele que não o queria de volta.

Ela não teve forças de dizer absolutamente nada e ele teve ainda mais certeza que sua ruiva ainda o amava.

A nova Defne

A geleira que separava Omer e Defne desmoronou na hora do beijo à beira mar. A pergunta que ficou por ser respondida, não precisou sequer de uma resposta. Omer foi buscar a amada na delegacia a pedido do pateta do Pamir, que achou que seria uma ótima maneira de humilhar o rival.

Mas, sem querer, acabou dando a Omer a oportunidade de fazer o que ele queria desde o início. Tomar sua ruiva ranzinza e magoada em seus braços, num beijo apaixonado que ele sabia lá no fundo que era o desejo dela.

Eu gostei de ver como a raiva do Omer fez ele perder toda a compostura e paciência que ele estava tendo até aquele momento. O beijo foi como uma espécie de selo, que ativou na memória da ruiva, uma “verdade” adormecida. Ela não era e jamais seria de outro. Mas também revelou a Omer que essa “verdade” tinha outras nuances.

Ele queria que ela largasse tudo que conquistou e fosse trabalhar na Passionis, bem longe de qualquer contato com Pamir. Defne entendeu a mensagem e se posicionou contra, dizendo que a “Defne boazinha não existia mais”. Ela não atenderia às vontades enciumadas de Omer. Ponto.

Eu acho que nunca vi uma cena mais bonita do
que essa em que Defne canta para Omer dormir.

Entretanto, como sempre acontecia entre eles, outras coisas entraram no primeiro plano. Eles eram um casal e tanto, mas também podia ser parceiros de trabalho excepcionais. E foi sob a tela da “autoria do sapato”, que Defne e Omer passaram a andar sob o mesmo traçado. E sem perceber começaram a agir como um casal novamente.

Por exemplo, Defne surtou com a aproximação de Feryal. Ao ponto de ficar bem nítido seu ciúme e ela não saber se justificar perante o Omer. Afinal, eles não são mais que colegas de trabalho. Enquanto isso, Omer fica inconformado com o fato de Defne não perceber que o bendito livro tinha sido presente dele.

Quando Defne descobre a verdade sobre o livro e vai ao encontro de Omer para tratar do tema. Eles finalmente conversam abertamente. Defne parece indecisa sobre se deve ou não voltar com Omer. Ela clama por algo que a ajude a tomar a decisão correta, alguma regra que ela pudesse seguir.

Omer sugere, então, três regras, a 1°: Largar a Stil Vagonu e se afastar de vez de Pamir. A 2° Esquecer o passado e não ter medo. A 3° Ela seria do Omer. Defne, obviamente, não aceitou e Omer implorou que ela definisse as regras, então.

O que quer que fosse, ele faria.

Não tem como nem reclamar das regras do Omer por serem descabidas, nesse primeiro momento. Porque logo depois de fala-las ele condiciona todas elas à vontade de Defne. Lembra que eu disse que ele cria um ambiente onde ela floresça e faça como bem aprouver?

É porque ele entende que forçar, impor e ser rígido não funciona com Defne, e muito menos, com seu novo eu. Foi sendo tão inflexível com seu jeito de enxergar o mundo, que ele criou uma redoma de vidro, que facilmente foi quebrada por aqueles que ele mais amava.

Quando Omer aceitou as falhas dos outros e parou de pensar que deveria perseguir a perfeição. Ele se abriu para viver todas as fragilidades da vida. Ele se protegeu tanto ao longo dos anos, que o resultado foi um dano catastrófico, mas necessário.

Quem diria que o cara perfeito se apaixonaria pela mulher imperfeita? Se ele não tivesse repensado sobre seus conceitos, escolhas e vida. Ele jamais seria feliz de verdade. Teria uma vida vazia como a que teve na Itália.

No fim das contas, Omer tinha um desejo e objetivo: Ter a Defne de volta. Se ela decidir ficar com ele, exigindo que ele se vista de bananas de pijamas todas as quartas-feiras. Ele aceita. É desse tanto que ele ama essa mulher.

Por isso deu o espaço que ela precisava para pensar. Até que ela surgiu com as melhores três regrinhas que se poderia imaginar. E aqui eu vou escrevê-las na integra, conforme a legenda:

“Regra N° 1: Você não vai interferir no meu trabalho e na minha carreira.

Regra N° 2: Quando eu precisar de um pouco de espaço, você vai me dar.

Regra N° 3: Você vai usar aquela camisa o mais rápido possível.”

A primeira regra do Omer limitava a carreira e as relações interpessoais da Defne. A segunda regra oprimia os sentimentos dela, impedindo-a de sentir tristeza com as lembranças ruins ou raiva com as atitudes do agora. A terceira regra é ainda mais ousada, porque demonstra à ruiva que aceitar Omer de volta é admitir que se entregou por completo para ele.

Defne, porém, é outra, lembra? Ela não voltou com Omer, ela decidiu jogar o jogo com ele. Falamos aqui do “labirinto da conquista”, não foi? Omer achou Defne em meio aos caminhos sem saída, mas ela nunca foi uma medalha a ser conquistada.

Uma coisa o Pamir estava certo. Não era Omer que decidiria ficar com a Defne, mas sim, ela decidiria ficar com Omer. E ela fez regras que nem todo homem aceitaria, vocês sabiam?

Defne exigiu sua liberdade profissional e interpessoal. Estabeleceu a necessidade de ter seu espaço respeitado, e mandou o Omer possessivo para debaixo de seus sapatos, ordenando que ele usasse a camisa que ela gosta o mais rápido possível.

Omer aceitou tudo, como eu disse, ele faria qualquer coisa para ela ficar com ele. Qualquer coisa. O que seriam essas regras para um homem que ama ter sua vida sob as rédeas de uma ruiva mandona? Nada.

Defne estava muito brava com Omer que desligou o telefone na cara dela. A ruiva fica “mordida” como falamos aqui no Pará. Perde o equilíbrio, coisa que não é muito difícil. Ela entra já empurrando o namorado. Omer nada faz porque diferente das outras vezes, ele vê nos olhos de Defne uma chama diferente.

Ele decide virar o saco de pancadas da amada e espera para confirmar suas suspeitas. Do nada ela fala “Só existe você para mim” e desabotoa a camisa verde caqui, que ele usou sem querer querendo naquela noite.

E se ainda havia dúvidas sobre Omer amar estar à disposição de Defne, acho que nessa cena não sobraram nenhuma. Que homem excepcionalmente apaixonado tivemos em Kiralik Ask. Despido de toda e qualquer masculinidade toxica e se houver, bom, não resiste diante da potência feminina que emana de Defne.

É lindo ver como, mesmo tão intensos, eles conseguem encontrar um meio termo de convivência pacífica. Cedendo quando necessário à vontade do outro, priorizando sempre o bem-estar entre os dois.

Mantendo num ambiente seguro o amor precioso que os uniu mesmo após tantas dores. Para que ele possa estar intacto de qualquer intempere. Não é que eles sejam perfeitos, é que Defom aprendeu a amar até as falhas um do outro.

E é sobre essa relação tão bonita que o trecho final de nossa resenha vai comentar.

Amar é respeitar

Gente, esse homem se derrete por ela de um jeito que chega a ser cômico. Alguém se lembra como foi a primeira vez deles? É claro que a noite de amor do nosso casal depois desse comeback não poderia ser de outro jeito.

Defne mudou muito, eu falei sobre isso o texto todo e uma das maiores mudanças dela foi em relação à sua vida e decisões pessoais. Quando ela voltou com Omer, a primeira pessoa que ela perdeu foi o Iso.

Seu melhor amigo ficou contra ela, e mesmo sendo doloroso ficar sem ele. Defne não abriu mão de Omer. Mesmo sentindo muito a falta de Ismail, seu parceiro, amigo, confidente e irmão. Ela seguiu firme na decisão que havia tomado, se seria boa ou não. Se daria certo ou não, ela iria tentar.

O tempo passou, Omer e Iso finalmente se entenderam. A amizade com Defne foi reestabelecida. E agora só faltava pavimentar o caminho para revelar a verdade à família dela. No entanto, tudo aconteceu rápido demais sem que se pudesse organizar nada.

Defne se viu contra a parede e mesmo sob intensa pressão familiar. Decidiu pela própria felicidade. Não estamos falando aqui sobre ficar com Omer, mas sobre escolher o que quer fazer da vida. Correr riscos, se jogar, voar para longe e viver aventuras inesperadas.

A família de Defne por ser muito unida, não soube lidar com a decisão da ruiva. Se magoaram com a mentira que ela contou. Porque achavam que Defne jamais faria algo assim, sendo que já tinha feito. Ela mentiu por amor ao irmão, e mentiu por amor a Omer.

Só que ninguém enxergou isso da forma heroica que ela enxergava ou que a trama enxergou. Porque afinal de contas é uma mentira. Mentir nunca é bom. A consequência foi clara, o irmão e a avó de Defne se magoaram.

A Nihan não conta porque ela foi uma ingrata, de todos naquela casa, ela era a única que não deveria ter rejeitado a amiga. Mas, eu falei disso na resenha anterior a esta. Quanto ao irmão, que também sabia do que ela tinha feito lá atrás por ele, era outro que deveria ter repensado sua mágoa.

Achei chique essa conversa, mas bem dolorosa. Ainda bem que eles se resolveram depois.

Por um lado, conseguimos entender o que eles pensaram. Imagina ver sua irmã/neta amada voltando para o cara que deixou ela um dia depois de se casar? Eles trataram a situação com os pés no chão, acreditando que Defne havia perdido o juízo e que Omer era algum tipo de vilão.

O caso é que Defne não somente confessou estar com Omer, ela saiu de casa por uma imposição familiar. Ela não tinha intenção de cortar laços, mas a situação a deixou entre a cruz e a espada. E ela acabou fazendo, na opinião dela, a melhor escolha naquele momento.

Era a vida dela que estava em cima da mesa. Eram as suas decisões que não envolviam pensar em irmão, irmã, cunhada ou avó. Ela estava fazendo algo por si mesma pela primeira vez e quebrar esse cordão umbilical familiar foi doloroso, mas necessário.

Naquela noite que ela saiu de casa para ir atrás de Omer. Mesmo sabendo que sair significava nunca mais voltar para casa. Defne se tornou uma mulher independente.

Até aquele dia, ela era a irmã de Serdar, a neta querida de sua avó. Ela não era vista como mulher, como alguém que poderia ser autossuficiente. Ela estava numa redoma de vidro, num castelo protegido por todo o amparo familiar. Até dar seu grito de liberdade e correr atrás de algo que só ela queria e compreendia.

Defne se mudou para a casa do namorado e viveu com ele tranquilamente até quase o fim da temporada. Omer precisava de Defne e foi lindo ver o companheirismo de ambos nesses dias difíceis. E foi ainda mais bonito ver como aconteceu a reconciliação familiar.

A raiva nunca é boa conselheira e quando os corações ficaram mais calmos, mais cheios de amor e saudade. Defne e Nihan fizeram as pazes, depois ela se reconciliou com o irmão. E quem esteve por trás de toda essa engenhoca de perdão, foi o cara que aprendeu a perdoar primeiro: Omer.

Defne voltou para casa e encontrou sua avó mais tranquila. Levou consigo uma tropa de agentes da paz. E o amor prevaleceu diante do orgulho e o preconceito, como Jane Austen nos ensinou.

A pior parte dessa segunda temporada foi justamente esse embate familiar, embora seja tão verdadeiro, sabe? A história de amor dos meus pais é um exemplo. Foi por minha causa que o par de namorados subiu ao altar. Meus avós maternos odiavam meu pai, e minha avó paterna não fazia gosto de minha mãe.

Eles se casaram mesmo muito novos e com todos esses “contras”. Estabeleceram uma bela união, que venceu todos esses preconceitos e orgulhos feridos. Meu avô e avó com o tempo amaram meu pai, e minha mãe se tornou uma filha para a minha avó paterna.

Como foi bonito enxergar na ficção um rascunho da realidade. Quantas histórias começam avessas e dão certo? E quantas parecem certas e terminam na primeira curva errada?

Defne e Omer souberam se perdoar, coisa que quase ninguém sabe. E o perdão acabou assumindo o posto de protagonista nessa trama, que começou com a mentira sendo a estrela no palco.

Eu não acredito que eu terminei Kiralik Ask amando a Neriman e Koray,
nem que ia amar eles sendo amigos de Defne. Puxa vida!

O perdão uniu toda a família e amigos de Omer e reconciliou a família de Defne. Se eles fossem orgulhosos jamais seriam felizes, nem descobririam que tem como conviver em harmonia, mesmo sendo tão diferentes.

A lição que fica dessa novela tão querida é que a felicidade, as vezes, cai do céu. Surge do nada num dia qualquer, que ninguém imagina ser futuramente especial. Mas só permanece se a gente extinguir o nosso “eu”.

Se Omer tivesse sido menos inflexível e durão, talvez Defne se sentisse confiante de ser sincera com ele. Se Defne tivesse sido menos medrosa, talvez tivesse aproveitado as boas chances que teve para revelar a verdade.

Se eles não tivessem medo de perder, de sofrer, eles teriam tomado as decisões certas, mesmo sendo dolorosas, e não ficariam rodando em círculos em busca da felicidade. As vezes o caminho mais difícil (contar a verdade) é o mais seguro e o mais rápido.

Quando o “eu” morre, a gente passa a ver a vida não a um palmo do nosso nariz, mas enxerga além do horizonte. A felicidade não tem uma fórmula, um par de regras e uma tabuada de equações.

Omer vivia do seu jeito e quem quisesse estar com ele tinha que dançar ao som de sua música. A vida provou a ele que a felicidade vem quando a gente abre o peito para algo novo. Quem diria que ele iria se apaixonar por alguém que mentiu para ele? Quem diria que ele perdoaria essa pessoa?

Omer quebrou-se para reconstruir-se num ser sereno e sem mágoas. Quanto à Defne parece que ela encontrou uma sombra de palmeira. Sempre elétrica, rebelde, voraz e sanguínea a ruiva aquietou o espírito ao encontrar um cara que sabe lidar com seus “momentos”.

Omer soube dar o espaço que ela precisava, soube observá-la crescer, sem a necessidade de moldá-la ao seu jeito. É da mulher dos “repentes”, dos “arroubos inflamados”, dos sentimentos tão a flor da pele, que ele perdidamente se apaixonou.

Defne não é uma pessoa fácil de lidar, Omer teve muito jogo de cintura a novela inteira para conseguir equilibrar as coisas entre os dois. Eu gostei disso porque geralmente a conciliadora é a mulher. Ela tem o papel de ser a Suíça da relação.

Defne, como bem sabemos, é tão tempestade quanto Omer. A diferença é que ele consegue, por incrível que pareça, ser mais sereno que ela. Principalmente depois que eles se uniram em definitivo nessa segunda temporada.

Como eu vou superar todos os beijos de defom? Eles beijam muito e bem bonito demais.

O homem parecia andar pisando em nuvens com a presença da amada em sua casa. E mesmo enfrentando o retorno de seu trauma, ele soube segurar a onda para não a preocupar. Silenciosamente tentou resolver o problema e quando Defne acabou entendendo errado a situação.

E teve um dos seus “ataques” fugindo para a casa da montanha. Omer foi atrás da amada e quando ela quis fazer confusão, os lábios dele silenciaram sua fúria. Omer aprendeu a amar Defne do jeitinho que ela é.

Ele entendeu que sem essa leoa esquentadinha a vida dele seria muito sem graça. E quando uma pessoa sabe onde está o próprio coração. Ela não quer outro lugar a não ser aquele onde ela se sente em casa.

Defne e Omer sabiam como cuidar e agradar um ao outro. Mesmo quando o outro inventa alguma esquisitice, como enfeitar a casa com enfeites natalinos. Ou desenhar o vidro de casa com uma mensagem bonita. Defne e Omer decidiram morar juntos e em pouco tempo parecia que eles já estavam sob o mesmo teto há décadas.

Quanta química!

Por isso, não teve caso fazer uma cerimônia de casamento. Uma passagem de tempo bastava. A pipa que voou ao céu no dia mais alegre da vida de ambos, permaneceu voando anunciando que a felicidade é uma brisa constante na vida dos dois.

Somos surpreendidos por Emine já grande e ruiva ao lado de um pai sorridente e orgulhoso. Enquanto Defne observava-os de longe segurando as costas que já não aguentavam o peso de sua barriga que gestava um novo ser.

A cena mais bonita para o final mais bonito

Nesse momento me veio um pensamento, se a novela acabar aqui. Ela finaliza perfeitamente, mas ainda tinha pouco menos de vinte minutos para o fim oficial do episódio e eu pensei novamente: O que mais pode acontecer de bom?

Eu nunca vi um final tão completo de uma novela turca, como eu vi de Kiralik Ask. É com folga um dos mais perfeitos finais. Eles finalizaram os arcos de todos os personagens. Transformando eles em uma grande família feliz.

E o que ainda me deixa pasma e maravilhada é com a completamente inesperada amizade entre Defne, Koray e Neriman. Eles se sintonizaram na mesma frequência de juízo e nos deram uma das conversas mais amalucadas e divertidas do último episódio. O abraço deles foi como um abraço em mim. Eu pensei “Puxa eu quero ser amigo dos três”.

Que novela bacana de assistir e impossível de esquecer. Se eu pudesse dar uma dica a todas as pessoas que um dia irão assistir essa novela, ou para você quando for recomendá-la para alguém é: Não leve muito a sério essa coisa da mentira, nem os personagens e a história levam tão a sério assim esse assunto.

Há uma coisa muito maior que a mentira dentro de Kiralik Ask, uma coisa pelo qual vale a pena você ver. E sabe o que é? Defom. Esse casal vale todos os 69 episódios e você nunca mais vai ver um casal como eles em comédia romântica turca.

A não ser que o mundo gire, capote, dê três cambalhotas e os autores e produtores tenham “bolas” o suficiente para peitar todo um sistema que valoriza dramas familiares tóxicos. Para mostrar aos turcos que ainda dá para se apaixonar por uma novelinha romântica e divertida, com um casal fogoso na medida certa.

Lembra que não se pode ofender os puritanos da banda de lá e alguns tantos da banda daqui. Quem dera tivéssemos um novo Defom que soube ser sexy sem ser vulgar. Que transformou cestas de maças e canetas naquilo que ninguém, que é muito careta, gosta de falar em voz alta.

Defom, será que um dia a Turquia inventa um casal em que a mulher parte para cima do homem com toda a moral do mundo para transar? Não sei.

E você o que acha? Será que um dia teremos um casal que supere esses dois? Me conta nos comentários, o que achou dos quatro textos sobre Kiralik Ask.

Aqui você pode ler todas as resenhas de Kiralik Ask escritas por mim:

Kiralik Ask – Uma nova história na 2° temporada

Um ano foi o tempo que Omer precisou para raciocinar que a vida sem Defne não era possível. Com bem menos episódios que a primeira temporada, a segunda temporada de Kiralik Ask existe para pôr os pontos nos i’s. E nesse texto vamos falar de forma geral sobre tudo que aconteceu nesses poucos episódios, mas…

 A Química incomparável de Defom

Defne e Omer são provavelmente o casal de comédia romântica turca que eu mais amei acompanhar. Embora comédia romântica turca não seja muito a meu forte. E Sen Çal Kapimi tenha sido a primeira que eu assisti, Kiralik Ask sorrateiramente roubou toda a minha atenção. Tanto que eu tive que dar a ela uma resenha…

Kiralik Ask é a melhor comédia romântica turca?

Sabe quando bate aquele sentimento de arrependimento e você se pergunta “como eu não vi isso antes?”. Kiralik Ask é de 2015, ano em que eu vi pela primeira vez uma novela turca. Que no caso se chamava As Mil e Uma Noites, e foi a primeira novela de lá a ser exportada para a…