Publicado em Escrita Criativa

Como encontrar inspiração para escrever?

Olá leitores,

Ninguém cria nada do nada. Toda ideia surge de alguma outra ideia anterior. A maioria das pessoas perguntam, de onde surgiu a inspiração para sua história? Como se isso fosse algo de outro mundo e quando explicamos que, na verdade, a ideia surgiu de um lugar inesperado e comum. As pessoas se impressionam e nos chamam de “criativos”, uns mais emocionados dizem que somos “geniais”.

Caro escritor(a), você é criativo e genial. Escritores são pessoas que sempre enxergam o mundo com potencial narrativo. A fila da lotérica é matéria-prima. O noticiário é matéria-prima. A fofoca quentinha da vizinha é matéria-prima. Isso porque a inspiração para escrever não se cria, se encontra.

Ela já está ali, as vezes, na nossa cara, dançando nos nossos olhos e nem sequer percebemos. No artigo de hoje dissertaremos que a inspiração é a magica que faz com que coisas inacreditáveis se tornem histórias empolgantes e inesquecíveis. Ative seu modo Sherlock Holmes das ideias e vamos lá!

OLHOS DE ÁGUIA

A primeira coisa que eu aprendi sobre esse oficio de escrever é que não há como escrever sem antes ser uma pessoa observadora. A ficção não é real, mas o mundo de onde se tiram as ideias que compõem nossos textos, sim. Quando eu entendi isso, quando eu refleti que até mesmo os pequenos e despretensiosos textinhos escritos quando eu era criança, foram baseados em histórias de livros que eu li, ou de coisas que eu vi ou ouvi alguém dizer.

Finalmente a essência misteriosa do meu futuro trabalho se descortinou perante meus olhos. Eu tinha que ser curiosa, atenta, uma jornalista de ideias, uma escavadora de informações. Desde então, eu passei a fazer algo que se tornou um hábito. Observar as pessoas, lugares, objetos, formigas, pássaros. Qualquer coisa. Qualquer um.

Eu fiquei tão “analista” que consigo, por exemplo, discernir uma verdade de uma mentira. Consigo sentir o cheiro da falsidade, ou o princípio de uma briga pelo tom de voz de alguém. Tudo bem, nem sempre, mas na maioria das vezes sim. Pode parecer exagero ou até meio assustador.

Por exemplo, eu não conto para ninguém que ela pode se tornar um personagem de livro meu. Exceto agora que eu estou revelando para toda a internet. No entanto, antes que alguém surte, é melhor ter claro a noção de que ficção é uma farsa imaginativa. E a realidade a fonte de nossos personagens e ideias inspiradas. Certa vez ouvi o relato de uma leitora de A Praia do Farol Velho, que não acreditava que a história do romance era fictícia e sim que se tratava da uma narração verdadeira. Esse era o objetivo.

Pensemos juntos, todo mundo já conheceu um Ricardo, que era amante da Jurema, esposa do pobre chifrudo do Leonel. Por isso quando eu convido você a observar o mundo que te rodeia, eu quero que você seja “a vizinha fofoqueira da realidade”. Quero que não simplesmente veja a Maria caminhando para o mercado com sua sacola colorida de feira. Não, eu quero que você olhe o semblante cansado, suado, estressado da Maria, que além de comprar a comida, vai cozinhá-la, antes que o marido chegue do trabalho.

É disso que estou falando.

Escritores são observadores. É isso que nos diferencia de quem não é artista das palavras. As pessoas, a maioria, presta atenção na roupa do outro consumidor que está fazendo compras no supermercado. No celular que está usando para fazer a soma dos produtos. No que tem dentro do carrinho. O escritor, porém, baseado nessas informações, tem a ousadia fabulosa de imaginar se essa pessoa é de apartamento, ou mora em conjunto habitacional de classe média. Se questiona qual o emprego, a idade, se tem filhos, marido (olha para o anel, não tem). É solteiro, amém, que INTERESSANTE!

Interessante. Essa palavra tem o poder de acender, avivar, atiçar ideias em nossa cabeça. Por isso, você tem que se habituar, a partir de hoje, a observar o mundo de duas maneiras, como: observadora e armazenadora de ideias. Para Rubens Marchioni temos que criar o hábito de

Observar e absorver, agindo como se fosse a última vez que aquela visão aconteceria em sua vida. Nesse sentido é indispensável desenvolver a própria curiosidade sobre as pessoas, coisas, lugares, porque tudo pode ser transformado em matéria-prima na hora de criar”.

Você já ouviu relatos de atores que para se preparar para um papel, precisam estudar o contexto do personagem. Muitos até se embrenham dentro do espaço onde seu personagem vive e se criou para captar a essência. Ou seja, se a atriz vai viver uma juíza, ela entra no mundo das leis de cabeça, comparece a julgamentos, entrevista uma juíza de verdade, fala com advogados, compra livros sobre o assunto. Faça o mesmo, mas em relação a tudo que despertar o seu interesse

MERGULHE DE CABEÇA.

Pratique essa técnica de observar e torne-a um hábito. E nunca mais sua vida de escritor será a mesma. Com o tempo, você vai poder fazer mentalmente, algo que eu amo, analisar histórias, personagens, dissecar as tramas e subtramas. Fazendo uma linha do tempo mental sobre cada acontecimento no enredo, marcando os pontos de reviravolta, os ganchos mais excitantes e o mais legal de tudo, na minha singela opinião, a capacidade do autor de manter o suspense e expectativa para o clímax.

Eu faço isso o tempo todo, com qualquer coisa que eu assisto. Seja filme, série ou novela. Analiso e aprendo. Faço-me as seis perguntas que Rubens Marchioni nos aconselha no livro Escrita Criativa da Ideia ao Texto. Ele diz que devemos fazer perguntas que desenvolvam o cérebro. Segundo ele, as seis melhores são: O que, quem, quando, onde, como, por que.

Sendo que a ultima eu uso mais, principalmente quando reclamo dos autores e algumas decisões arbitrárias. Porque como uma boa telespectadora, eu tenho o direito de querer ver meu casal feliz no final. Hahaha Pratique esse exercício. Questione. Aprenda das pessoas e do mundo. Não menospreze nenhum conhecimento, nenhum ponto de vista, até os mais loucos, tem algo a acrescentar para seu banco de informações.

TÉCNICAS QUE AJUDAM A ENCONTRAR INSPIRAÇÃO

Segundo o autor Paul Munier no excelente livro The complete Handbook of Novel Writing, que eu carinhosamente chamo de Manual do Escritor. Munier fala sobre técnicas que nos ajudam a arar a terra, para a semente das ideias ser plantada em nossas mentes. Muitos escritores principiantes começam porque tiveram uma ideia incrível, mas não sabem como manter essa ideia viva durante o processo longo, cansativo e, as vezes, frustrante da escrita.

Para Munier “se você não estiver engajado, como você pode esperar que o leitor também se engaje Se você não está se divertindo, como você pode esperar que o leitor também se divirta? Se você não estiver entretido, como você pode esperar que o leitor também esteja?”. É por isso que a inspiração deve ser encontrada e mantida, como o galão reserva para o caso de faltar gasolina no meio do caminho. A inspiração impulsiona a ideia e não pode ser descartada, só porque a ideia já se formou.

Sem motivação ninguém senta para escrever. A inspiração é sua motivação. Escrever não é fácil. Quem diz que é fácil, não é um escritor de verdade. Pode parecer meio duro isso, mas pergunte a qualquer escritor se é mamão com açúcar escrever um romance? Ele vai dizer que foi complicado. Sempre é.

Mas escritores valentes não se deixam abater por empecilhos. Não deixam. Por esse motivo você vai começar, assim como eu, a praticar as dicas de Paul Munier. Assim quando a inspiração quiser fugir, você vai usar uma dessas técnicas e manterá as ideias num ciclo de produtividade. Sua mente não pode estagnar e ela não vai se você seguir essas dicas.

Eu as traduzi do inglês de uma maneira simples e divertida, bem no estilo dos artigos do Estante da Autora. Também tomei a liberdade de dar exemplos meus, para provar que elas funcionam de verdade. Vamos lá!

1. CAMINHADA

Vá passear. Ande. Sim, é para fazer isso. Vá no mercado, mas vá de máscara, hein. Além de ser um exercício físico, que movimenta seus músculos retraídos de tanto ficar sentado na frente do computador. Ainda é uma ótima oportunidade de observar o mundo. Lembra da dica que eu dei anteriormente? Pois é. Tire um tempo, se puder sair de casa, aproveite esse momento para se permitir receber informações novas e instigantes.

Antes da pandemia, eu tinha o costume de ir ao mercado andando. No meio do caminho, eu amava observar o céu e muitas vezes adicionei o céu que enxerguei naqueles dias às minhas histórias. Caminhar também faz a engrenagem da imaginação rodar com mais facilidade. Você ficará surpreso com o poder desse exercício. Em como voltará inspirado para continuar aquela história que ficou paralisada no bloqueio criativo.

2. SE AQUEÇA

Antes de escrever, eu faço um aquecimento mental. Porque o físico ainda me custa um pouco. Um dia serei mais fitness, prometo. Enquanto isso, a musculação mental é tão necessária quanto a física. E para aquecer os miolos, eu leio poemas. Geralmente na hora do café da manhã. Se tornou um hábito desde quando eu comprei o kindle. Eu leio todas as manhãs os poemas de Neruda, de Vinicius ou Drummond.

Outra coisa que eu faço antes de ficar diante do computador com o editor de texto na minha frente, é escrever à mão algumas ideias. Eu tenho um caderno desses grandes onde eu organizo as ideias para os textos no Estante da Autora, para as fanfics e obras originais. Eu gosto de fazer notas.

Eu também brinco de fazer prompts. Um dia desses criei uma lista de 30 palavras aleatórias e criei microcontos baseados em cada uma dessas palavras. Fiz cinco microcontos em quarenta minutos. Foi divertido, exercitei a minha criatividade e percebi que isso teve um efeito satisfatório na minha autoestima e também na minha produtividade, já que depois sentei para continuar o capítulo de um romance.

3. MEDITE

Realmente meditar é um santo remédio para mentes conturbadas pela necessidade doida de continuar escrevendo aquele capítulo que ficou pela metade. Quando falamos de meditar não é só algo do ponto de vista espiritual, mas uma forma de regular da ansiedade. Que pode ser tóxica para sua criatividade, na verdade, para tudo na vida.

Eu não funciono sob pressão. Parece que minha mente encolhe, as ideias fogem, a inspiração se joga do penhasco e eu me desespero ao ponto de desligar o PC. Eu largo o texto como está e volto só outro dia, se eu voltar. Como eu sei, que essa é a minha reação básica quando estou encurralada, sabe quantas vezes eu fiquei desse jeito? Poucas. Eu não me permito chegar nesse ponto mais.

Eu me organizo de modo que o prazo não me assombre. Mas quando isso não resolve e imprevistos bagunçam minha agenda, eu entro no modo zen para evitar estresses. Paro o trem da vida. Me isolo um instante bem longe de pessoas, do computador e das minhas preocupações escritas.

Olho para dentro de mim e reflito silenciosamente sobre minha história. Faço uma revisão mental de tudo que eu escrevi. Depois disso deixo a mente esvaziar-se aos poucos, até que sobre apenas a paz. Mentes relaxadas produzem melhor.

4. ESCUTE MÚSICA

Essa é a dica mais incrível para te manter inspirado e umas das minhas favoritas. Eu vou apresentar para vocês a minha playlist no spotify, e não, isso não é publi, mas podia ser. Hahah “Songs for Writing” é a minha trilha sonora de escrita. Tem música de novela, de filme, música de série, música que eu escutei em algum lugar e disse “meu deus isso serve para ser trilha sonora de uma história minha”.

Eu escrevo ouvindo música. Ou melhor, só escuto música quando escrevo. Fora disso, raras vezes eu escuto. É meio doido, não? O mais doido ainda é contar para vocês que as músicas que mais me ajudam a manter a inspiração e concentração para escrita são Bad Romance da Lady Gaga, Céu de Santo Amaro do Flávio Venturini, Tomorrow e Gettin you homede Chris Young e Super Trouper cantando por Cher.

Eu vou explicar porque elas são as que eu mais escuto. Bad Romance é para as cenas tensas e mais difíceis de escrever no meu ponto de vista, como brigas, discussões. Onde eu preciso escrever diálogos mais densos, cheios de significados para os personagens e leitores.

Céu de Santo Amaro é para todas as cenas de amor. Ela fica on repeat enquanto deixo fluir as ideias e a imagem do que o eu quero narrar surge aos pouco como num filme na minha mente. Devido a musicalidade tranquila e relaxante, Céu de Santo Amaro, me ajuda a ter paciência para não correr para o clímax desse momento. Já que, muitas vezes, é o momento mais esperado pelo leitor e também por mim. Porque eu também fico agoniada para ver o casal feliz.

Tomorrow do Chris Young, eu escuto sempre quando vou escrever a sofrência dos personagens. Quando eles estão na bad é essa música que eu estou ouvindo por mais de uma hora sem parar. Gettin’ you home também do Chris é a canção que eu escuto quando estou criando cenas em que eu preciso mostrar que meu casal tem química. São as cenas de tensão sexual. Os gracejos, os beijinhos inesperados, as surpresas amorosas todas são escritas ouvindo essa música.

Super Trouper cantado pela Cher é para as cenas divertidas, leves e para quando eu estou começando a ficar cansada de escrever. Eu escuto Abba para me animar, as vezes eu pulo e deixo no álbum inteiro de Mamma Mia para me inspirar novamente a escrever.

Funciona!

5. TOQUE UM INSTRUMENTO

Te ajuda a desacelerar, após longas horas de escrita. Ajuda a tirar da mente uma história, para depois pensar na outra. Ainda mais se você for como eu, uma pessoa que escreve vários textos ao mesmo tempo. Por exemplo, durante a semana eu escrevo o artigo para o blog, contos, romance e duas web séries.

Histórias completamente opostas que precisam de transição entre elas. A minha transição é tocar violão. Mas qualquer atividade manual também serve, crochê, por exemplo. Eu faço crochê para fazer essa transição, esse relaxamento. Esvaziar minha mente de uma trama, para me envolver na outra. Se eu não fizer isso é capaz de errar até os nomes dos personagens.

6. ESCREVA COM AS MÃOS

Você se lembra que os professores sempre dizem que tomar notas das aulas ajudam a lembrar do conteúdo? E isso de fato te ajudava depois no dia da prova? Faça o mesmo com as ideias que surgem. Não confie na sua memória, assim como não confie que o editor de texto está salvando o seu progresso automaticamente. Sempre aperte no botão salvar.

Sempre anote todas as ideias. Eu sou tão maluca com isso que anoto até as pregações na igreja. Eu saio de casa com caderninho e caneta. Eu tenho no celular gírias, frases que ouvi de pessoas e achei interessante. Para Marchioni “a prática de fazer anotações amplia as possibilidades de criar e escrever com mais qualidade.”

Eu anoto para lembrar. Anoto para guardar. Anoto para conferir depois. Anoto para organizar. Escrever com a mão também tira um peso de mim. Quando eu sento para escrever no computador é para produzir, para fazer o texto crescer. Quando escrevo no caderno é para pôr as ideias ali, brutas, sem trabalhar ainda. Só as ideias. Assim eu não as perco no emaranhado de pensamentos que voam na velocidade da luz pela minha cabeça.

Comece hoje um caderninho de anotações.

7. TOME UMA SONECA

S e todas as outras técnicas falharem, durma. O seu mal é sono. Descanse a mente e ponha as ideias de molho. Quando você acordar mais relaxado tudo vai ser muito mais claro diante dos seus olhos. Acredite. Escritor, durma. É sério.

Eu tentei ser morcega, porque eu achava que só conseguia produzir bem no silêncio da madrugada. Até hoje estou tentando regular meu sono. Eu tive que aprender a escrever no meio da adversidade, no meio de barulhos, conversas. Na agitação do dia para ter a noite como meu horário de descanso.

Nem sempre eu consigo essa proeza e ainda tenho como meu horário mais produtivo a madrugada. Eu realmente funciono melhor no silêncio. É uma questão de bom senso. Se a história não está fluindo e você sente que a inspiração para aquela cena espetacular não veio. Não se desespere, acontece com todo mundo.

Com o autor reconhecido mundialmente e aqueles como nós, que ninguém conhece direito. Durma. Relaxe. Depois você volta e mata o bloqueio criativo com um golpe inspirado de esquerda.

MOTIVE-SE

Depois desse texto, faça um favor a essa história incrível que está pulsando dentro de você para sair e se tornar um romance maravilhoso. Inspire-se. Encontre a musa e case-se com ela. Nunca mais a deixe partir. Use dessas técnicas e se tiver outras use-as também. O importante é manter-se inspirado para continuar usando as palavras para encantar o mundo.

Eu criei o Estante da Autora para fazer algo que eu queria que fizessem por mim. Me ajudar a vencer as minhas inseguranças e incertezas. Grandes ideias, grandes talentos são enterrados porque coisas simples se tornam bichos de sete cabeças. Agora não mais. Você, caro escritor(a), tem alguém aqui que vai sempre te dar dicas legais para que o seu sonho de escrever um livro se torne real.

Até mais.