Publicado em Diário da Escritora, Estante da Esperança

Quais são as palavras que mais tememos ouvir? – Estante da Esperança

Não são todas as noites, mas as vezes antes de realmente fechar os olhos e dormir. Eu lembro de coisas tristes. Então, a palavra que eu não gosto de ouvir é lembrança. Porque tudo que há de ruim nos marca mais do que as coisas boas? Não vem à memória a primeira viagem que fiz, a minha formatura na faculdade e nem o dia que meu livro foi lançado.

Sempre antes de dormir eu lembro das pessoas que se foram e que ainda sinto muita saudade. Eu lembro do sorriso, da textura da pele, da voz e do jeito de andar. Lembro principalmente do dia que as perdi, quando bateu na porta aquela notícia de morte tão temida. Eu também tenho medo de ouvir essa palavra.

Por incrível que pareça essa foi a palavra que eu mais recebi quando fiz essa mesma pergunta que dá o título desse texto. As pessoas me responderam que a palavra morte era o que elas mais temiam ouvir. Não é para menos. Nos tempos que vivemos essa palavra se tornou uma parte integrante do nosso dia a dia. Quantas vezes dissemos adeus não até breve?

Se você perguntar para uma pessoa na rua se ela perdeu alguém na pandemia. Ela vai dizer que sim. Estamos cansados de ouvir palavras que remetem à perdas. De olhar para os lugares vazios que antes eram do fulano e ciclano. Estamos fartos de conviver com a ausência de alguém cuja presença se fazia necessária. Estamos cansados da solidão.

O isolamento nos ensinou a importância do mundo lá fora, da nossa vontade de ser sociável. Mostrou que nosso quarto pode ser uma prisão, que a rua é ainda mais perigosa do que se pensava. Descobrimos o quanto somos frágeis. Que tem certas coisas que fogem ao nosso controle.

Nem sempre vai dar tudo certo. Tem dias que você ficará triste. Haverão fracassos, cobranças dos outros e de si. Você desejará abraçar o mundo, ser o “sufiente” para os outros. Você se sentirá incapaz. Faz parte.

O pior é que quando você olhar para trás verá que é tarde demais para tomar uma atitude diferente. Espera esse texto deveria te trazer uma luz, não é? Porém, tudo o que eu fiz foi expôr ainda mais a ferida.

Sim, eu sei, mas a vida não vem com manual, nem mesmo um conselho pode nos ajudar mais do que a experiência. Tem coisa que não se pode evitar, mas tudo é passageiro. Até, o amor. Espera aí, como é? O que você leu. O amor também chega ao fim no ultimo suspiro dos apaixonados.

A eternidade para quem ama parte da percepção alterada do tempo. Quando o amor inunda a nossa alma é como se o relógio estivesse com a bateria ruim. Ele já não consegue contar direito as horas. O amor some um dia, se esfumaça dos corações e voa como uma nuvem para o campo da memória.

O maior exércicio que podemos fazer hoje é alimentar nossas memórias boas. Chega de pensar no que te traz dor. Todo dia force sua mente a lembrar do dia que você foi feliz. Não ponha areia no seu caminhão dizendo “ah, se eu soubesse que aquela foi a última vez…”

Não se abrace com a culpa de não ter ido naquele dia, de não ter batido naquela porta. De não ter escolhido isso por aquilo. Não se pode fazer muito com o passado a não ser sofrer por ele. Deixe o passado onde está e olhe para o hoje. Para o momento que estas vivendo e que é passível de alteração.

Lembre-se de tudo que for bom. Enumere suas bênçãos. Se o saldo recente for negativo, volte até aquela memória de benção antiga e agradeça aos céus por ela.

O ato de ser grato gera paz. As palavras que nos assombram não têm o poder de nos matar. Elas são como os bichos papão do filme de Harry Potter, eles se transformam em algo engraçado quando você o imagina com aparência cômica.

Todas as palavras em negrito deste texto são inevitáveis nessa vida. Isso vai acontecer uma vez ou outra. Elas não deixarão de existir, mas você pode escolher entre torná-las um inimigo duradouro ou um adversário passageiro.

Se ainda assim for difícil sozinho. Peça ajuda. Consulte um psicólogo, faça terapia.

Por isso deixo aqui o e-mail da estantedaautora@gmail.com à sua disposição. Se quiser conversar, desabafar, abrir o coração. Ficarei muito feliz em te ajudar. Não sou médica, nem psicóloga, mas posso ser uma amiga. Sei que isso também pode ajudar.

Beijos!

Deus abençoe vocês.